domingo, 24 de outubro de 2010

Gabriela. Nem cravo, nem canela

É estranho ter o outro do lado de lá
Não que o lado de cá seja seco e sólido.
Tudo isso é muito complicado.
Essa coisa de ter que viver um dia depois do outro
E essa coisa de não querer ter mais nenhum dia pra viver
E de ter que existir a custa de uma imagem pseudônima
Que se reflete nos espelhos e nas vidraças,
E nas poças d’água...
Que se liquidifica e transborda pelo canto do olho
Escorre pelo rosto e perpassa o lábio
Até saltar da plataforma na fronteira do queixo
E despencar, rolando em cascata.

É estranho perceber que quando dói
É porque a gota já marcou o assoalho.
Aí o esquecimento se faz capaz de proteger,
E o rubro quente tomado por vodka embriaga.
As narinas farejam o líquido viscoso
E o calor se distribui em cada soluço.
Enquanto a mãe se lamenta
Supondo relações desvairadas
A pequena continua choramingando
Sugando um seio seco.

Cresce a possibilidade de ser,
De esquecer e resistir
E de não ser...
Uma massa branca movida a pontapés
De outras massas que brilham a custa dos teus olhos.

É tão esquisito. E desajeitado.
Quando se sabe que só saber já não alcança nada.
E não resolve. E não cura.
Porque Dois, agora são outros.
E Um, agora volta sozinho pra casa.
Onde nenhum deles esperava encontrar o outro, no início.